Judas and the Black Messiah (2021)

 


Fred Hampton é um dos nomes mais influentes do grupo ativista Black Panter, no final dos anos 60 e um alvo da política de J. Edgar Hoover e da FBI. Bill O’Neil é encarregue de se infiltrar no grupo e obter informações sobre Fred para que este possa ser derrubado.

 

Judas and the Black Messiah é um filme com realização de Shaka King, partilhado a escrita do argumento com Will Berson, Kenneth Lucas e Keith Lucas. Produzido por Warner Bros. Pictures, MACRO, Bron Studios, Participant Media. O filme conta com um elenco de nomes de sucesso, como é o caso de Daniel Kaluuya, Lakeith Stanfield, Jesse Plemons, Ashton Sand, entre muitos outros. Muitos destes atores já haviam participado em filmes com uma crítica social e racial, como Get Out ou Moonlight. Judas and the Black Messiah tem 6 nomeações aos Oscars, entre elas a de Melhor Filme, duas para Melhor Ator Secundário, para Kaluuya e Lakeith Stanfield, e Melhor Argumento Original.

Judas and the Black Messiah é um filme que nos relembra de BlacKkKlansman, e de muitos outros filmes de Spike Lee, tendo várias semelhanças com estes, desde logo a grande crítica social e racial, principalmente nos Estados Unidos da América. Shaka King parece ter ido buscar inspiração ao realizador de Malcom X, agarrando num tema que apesar de ser bastante falado e centrado nos filmes, continua a ser necessário. É então isso que Shaka King entrega, um argumento forte, sem medo de criticar e apontar nomes. É uma história real, mas que foi passada pela primeira vez para o cinema, daí a sua nomeação ao Melhor Argumento Original.


"(…) Shaka King entrega, um argumento forte, sem medo de criticar e apontar nomes."


Todo o filme anda em volta de Fred Hampton (interpretado por Daniel Kaluuya) e a sua liderança dos Black Panther, mostrando um líder que não tem medo de morrer pela causa, mas ao mesmo tempo não quer derramar sangue desnecessário, e isso é mostrado na sua ação de união com as outras fações de luta, que até aqui vinham sendo rivais, mesmo lutando pela mesma causa. Por outro lado, vemos também Bill O’Neil (interpretado por Lakeith Stanfield) e a sua tarefa de informar o FBI sobre todos os movimentos de Hampton e o seu grupo.

Todo o filme é uma crítica social e uma biografia de Hampton e, principalmente, O’Neil. A demonstração de uma cabala política contra o grupo ativista Black Panther, levada a cabo pelo FBI, mais precisamente pelo seu diretor J. Edgar Hoover, sendo estes capazes de tudo para que consigam terminar com o grupo ativista. São várias as vezes em que se mostram as verdadeiras intenções da polícia federal e que se referem os extremos que foram tomados para conseguir terminar com o poder deste grupo, desde logo a infiltração dos vários agentes e a questão de não recearem matar elementos do partido, cometendo assim crimes de homicídio, apenas para culparem os Black Panther. O governo dos Estados Unidos da América é assim representado como grande vilão, não sendo apenas uma pessoa, mas sim uma grande instituição ou Estado, mostrando a grande investida destes para com os grupos ativistas da época, e para com um dos seus líderes.


"Todo o filme é uma crítica social e uma biografia de Hampton (…)"


Daniel Kaluuya é o ator que mais se evidência durante o filme, não só pelo seu papel de destaque, mas sim pela sua entrega e caracterização, com discursos fortes e um estudo de personagem detalhado. A forma como Hampton é a imagem de América negra revoltada com as injustiças raciais e que já perdeu o medo de lutar, mas ao mesmo tempo também transmite uma racionalidade nos seus discursos de união e solidariedade. Fred Hampton une os diferentes grupos ativistas que lutam contra a mesma injustiça, mas de formas diferentes e com uma rivalidade entre eles. Alguns desses grupos são mais pacíficos e defendem uma fação e até outros líderes do passado, enquanto outros são mais defensores da luta através das armas e da violência, no entanto ambos se unem quando percebem que a luta é a mesma e que apenas juntos conseguem diminuir as injustiças, algo que apenas acontece devido aos discursos de Hampton e à sua coragem.


"Daniel Kaluuya é o ator que mais se evidência durante o filme, não só pelo seu papel de destaque, mas sim pela sua entrega e caracterização (…)"


Já O’Neill é a imagem da “toupeira”, do “Judas”, do infiltrado que se vê naquela situação por um triste acaso e que teme pela sua vida. Não é representado como um vilão maior, apesar de trabalhar para o FBI. Isto é nunca senti um ódio extremo por ele e mesmo a realização nunca pareceu dar esse papel à personagem. E aqui posso ser polémico, mas pareceu-me até mais que estavam a dar um papel de perdão ao verdadeiro O’Neill, mostrando que este estava a fazer aquilo para se salvar e através das mensagens finais e da sua história de fim de vida, mostram um arrependimento de vida. Em todos os filmes de infiltrados vemos um medo da morte e das consequências desse trabalho, e Judas and the Black Messiah não é exceção, pois vemos O’Neill a perguntar várias vezes pelo fim da missão e a temer que descobrissem que ele estava infiltrado.


"Já O’Neill é a imagem da “toupeira”, do “Judas”, do infiltrado que se vê naquela situação por um triste acaso e que teme pela sua vida."


O filme nunca poderia terminar sem um final forte e chocante visto representar a história de Fred Hampton, e é isso mesmo que nos é entregue. Mostram um final poderoso que deixa qualquer um com um sentimento de impotência e de raiva pelo que foi feito a todos aqueles que eram inocentes e viram as suas vidas desfeitas.

 Judas and the Black Messiah é para mim um dos principais favoritos nos Oscars 2021 e com certeza receberá algum galardão, sendo que na minha opinião, Daniel Kaluuya é um dos favoritos ao prémio de Melhor Ator Secundário.

 

“So, if you were asked to make a commitment at age 20, and you said, "I'm too young to die," then you're dead already! If you dare to struggle, you dare to win! If you dare not struggle, then, God damn it, you don't deserve to win!”

 

            João Maravilha

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