Luca (2021)
Dois jovens monstros aquáticos decidem descobrir como é
que é viver na superfície e maravilham-se com a descoberta de um novo mundo
capaz de os surpreender. No entanto através da sua capacidade de se humanizar
têm de viver com a sua real identidade escondida em Portorosso, uma cidade que
vive com medo de monstros aquáticos e que os quer ver capturados.
Luca é o filme que a Pixar e a Walt Disney Pictures
decidiram lançar este ano. Realizado pelo estreante realizador em longas
metragens Enrico Cassarosa, Luca é um filme que nos leva diretamente
para a Riviera italiana e todo ele gira em volta dessa caracterização, sendo
que até a língua italiana é falada de tempos em tempos.
Todo o filme foge do que a Pixar nos tem habituado a
oferecer, sendo que a animação é desde logo a grande diferença que se nota. Soul,
Coco, Divertidamente, e a maioria dos outros filme do estúdio
primam por uma animação mais realista a nível da humanização, mas Luca
foge desse habitual e apresenta uma animação única dentro do estúdio, parecendo
que agarrou noutros estúdios para se inspirar e criar algo único. As
personagens e os seus movimentos por vezes parecem feitos em stop-motion, como
o Laika Studios nos habitua, o rosto das personagens já se assemelha mais aos
da Aardman Animations, responsáveis pelos filmes do Wallace & Gromit,
e noutros momentos vemos semelhanças com o estilo da Illumination Entertainment
e os filmes do Gru- O Maldisposto. A Pixar parece ter dado um passo
atrás na sua “perfeição” de animação para mostrar que a simplicidade também
traz coisas excelentes, muito como o Studio Ghibli já demonstrou e vai
demonstrando ao longo dos anos, e eu valorizo e aplaudo essa decisão.
É um filme que na sua maioria é muito bem conseguido e
entrega o que pretende, um filme divertido e familiar, mas que tem certos
pontos que pareceram incompletos ou mal realizados. Todo o primeiro ato onde
descobrimos a história do Luca e onde este conhece Alberto tem ligações e sequências
semelhantes a uma curta metragem, algo que não é mau, mas também não é lá muito
bom, pois tornam o filme rápido demais com cortes temporais e tornam coisas
demasiado ao acaso. Por outro lado se aceleram o filme, também o abrandam
através das sequências de sonho do Luca, e este ponto sim foi o que mais me fez
questionar o porquê de ali estar quando poderia ser ocupado para outra coisa se
queriam estender o filme.
Luca tem uma mensagem de aceitação de quem somos e
dos outros, independentemente do aspeto, sendo que Giulia (interpretada por
Emma Berman) é a imagem dessa aceitação, pois recebe os dois amigos e mesmo
após saber a verdade continua a zelar pelo seu bem. Mas esta mensagem para ser
iniciada trouxe clichês cinematográficos, principalmente dos filmes de
animação. Os problemas familiares, onde a mãe e o pai não aceitam a vontade do
filho, aliado ao medo deles, como no Coco por exemplo, ou o medo da
superfície que já se havia visto no À Procura de Nemo, neste caso
compreensível pela questão aquática, ou a curiosidade da criança que a
leva para caminhos perigosos sem que esta meça os riscos, como em quase todos
os filmes da Pixar.
Luca é um filme muito divertido e muito fácil de ser
visto, sem que se tenha de pensar muito ou que exija muitas respostas, sendo
que o que é apresentado torna-se suficiente para agradar e passar uma boa hora
e meia de divertimento. No entanto não é um filme que seja expectável e óbvio
que fique nos favoritos de quem o vê, sendo um filme bastante agradável de se
ver, mas que as emoções trazidas por este não sejam suficientes para o colocar
de entre os melhores.
“Sillenzio Bruno”
João Maravilha
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