Nomadland - Sobreviver na América (2020)
Fern é uma mulher que decide percorrer o Oeste dos Estados Unidos da América juntamente com a sua carrinha, fazendo desta a sua casa. Durante esta viagem vemos as suas novas amizades e somos levados para um mundo de novos nómadas, que vivem sempre em movimento e se recusam a fixar e ter um imóvel a que chamam de casa.
Nomadland é um filme realizado por Cloé Zhao e
produzido pelos estúdios Highwayman Films, Hear/Say Productions e Cor Cordium
Productions. É uma adaptação do livro Nomadland: Surviving América in the
Twenty-First Century de Jessica Bruder. O filme está indicado para 6
Oscars da Academia, sendo que são o de Melhor Filme, Melhor Atriz,
Melhor Realização, Melhor Argumento Adaptado, Melhor
Cinematografia e também Melhor Edição. Tanto a nomeação de Melhor
Filme e de Melhor Realização já fizeram história, o primeiro através de Frances
McDormand, que tornou a primeira atriz a ser nomeada pela sua atuação e pela
produção do mesmo filme, já o de Melhor Realização, por Cloé Zhao se tornar a
primeira mulher asiática a ser nomeada para o prémio este prémio. Nomadland
já ganhou 2 Globos de Ouro, 6 BAFTA, entre muitos outros prémios.
Como já referido anteriormente, este é um argumento adaptado
por Cloé Zhao, sabendo esta ser capaz de passar a ação do livro para o grande
ecrã e não o transpondo através de uma forma de documentário, embora muitas
vezes dê essa ideia, desde logo pela representação de pessoas reais, a serem
representadas por elas mesmo, como é o caso de Linda May, Swankie e Bob Wells.
No livro é retratado o fenómeno da população mais velha dos EUA que adotou um
estilo de vida nómada, viajando pelo país e tendo empregos temporários para
ganhar a vida, e no filme o argumento é semelhante, dando-nos a imagem de Fern,
uma mulher viúva que depois da morte do marido e da perda do emprego devido à
Grande Recessão decide adotar uma vida de viajem na sua carinha/casa.
"(…) este é um argumento adaptado por Cloé Zhao, sabendo esta ser capaz de passar a ação do livro para o grande ecrã e não o transpondo através de uma forma de documentário (…) " |
O que Cloé Zhao apresenta em Nomadland não é um
trabalho de alguém que não tem um vasto currículo em realização, pois o cuidado
que esta dá a cada detalhe só deveria ser possível com vários anos de
experiência. O cuidado com os detalhes e a junção de atores a representarem
personagens fictícias com atores a representarem-se a eles mesmos é de uma
atenção minuciosa, que ao ser feito com excelência separa facilmente o filme do
documentário, abrangendo ainda um maior número de espetadores. A forma como
Cloé Zhao e Joshua James Richard (diretor de cinematografia) conseguem captar
imagens paisagísticas lindíssimas e momentos de encher o olho, sendo capazes de
ter detalhe e cuidado para inserir momentos belos e sem diálogo. Momentos esses
que muitas vezes não têm uma importância para a história, mas que ao não serem
monótonos e ao trazerem a beleza ao de cima nos mostra o olhar cuidadoso da
realizadora.
Nomadland ao ter uma história tão especifica poderia perder-se no argumento para o esticar, no entanto conseguiram tornar uma história interessante de ser contada e mostrada, não a tornando maçadora ou esticada. Marcada sempre por um ritmo lento e calmo, como a vida que as personagens levam, conseguiram marcar o passo certo e levar a história de encontro com quem assiste. Começa com uma apresentação de Fern lenta, mostrando toda a sua realidade de forma a que tudo se entenda e nos comecemos a ligar com esta.
O filme não nos quer passar uma mensagem de que a vida nómada
é melhor ou que todos a deveriam adotar (pelo menos para mim não o conseguiu
passar), e digo isto pois são mostradas várias vezes as dificuldades e os
contras desta vida, como o caso dos empregos temporários, ou os custos de manutenção
das carrinhas que podem ser maiores do que aquilo que ganham, ou mesmo a
ligação familiar que nos é demonstrada já no final. No entanto não mostram
apenas os contras desta vida, nem faria sentido visto que o principal objetivo
do filme é mostrar a realidade destas pessoas e que as suas vidas também conseguem
ser calmas e organizadas, mesmo que não tenham uma casa imóvel, e mostram também
os contras das vidas que para a maioria
de nós é considerada “normal” através dos diálogos com Linda May ou Bob Wells,
onde estes explicam o que levou à escolha deste modo de vida e as dificuldades
porque passavam, não tendo aí apoio.
Pouco há a dizer sobre Nomadland e penso que se o desconstruir
mais poderei perder o seu gosto. É um filme que merece ser visto, não só por nos
mostrar uma realidade existente, mas também pela beleza que nos é transmitida através
das grandes imagens e planos, ou pelos momentos sem diálogos onde somos levados
para aquele momento em comunhão com a natureza.
Nomadland é um dos grandes favoritos aos Oscars e
promete trazer alguns dos prémios a que está nomeado. Francis McDormand é uma
das favoritas a ganhar a Melhor Atriz, sendo que se ganhar iguala Meryl Streep
com 3 galardões de Melhor Atriz. Para Melhor Filme também é um forte
candidato a ganhar, e as minhas apostas vão para ele. Em Melhor Realização,
Cloé Zhao deve competir com David Fincher. Melhor Argumento Adaptado talvez
vá concorrer com The Father e Melhor Cinematografia acredito que ganhe também. As minhas apostas vão para que Nomadland
compita com Judas and the Black Messiah pelo filme que ganhará mais
Oscars, tendo os dois filmes 6 nomeações cada e para mim o filme de Cloé Zhao
ganhará 3 dos 6.
“One of the things I love most about this life is that there's no final goodbye. You know, I've met hundreds of people out here and I don't ever say a final goodbye. I always just say, "I'll see you down the road." And I do. And whether it's a month, or a year, or sometimes years, I see them again”
João Maravilha
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