O Túmulo dos Pirilampos (1988)




        No final da Segunda Guerra Mundial, o Japão era bombardeado continuamente, fazendo com que bastantes crianças ficassem órfãs. Foi o caso de Seita, de 14 anos, e a sua irmã mais nova, Setsuko, que viram a sua mãe morrer durante um ataque aéreo em Kobe. Ambos foram viver para casa da tia, mas quando os problemas e as discussões se agravaram, os irmãos decidem viver sozinhos numa gruta que servia de abrigo contra os bombardeamentos. Os dois têm de lutar pela sobrevivência e procurar uma nova forma de viver.

         Este é um filme dos Studio Ghibli, com realização de Isao Takahata. É o quarto filme do estúdio de animação japonês, autor de títulos como a Viagem de Chihiro, a Princesa Mononoke ou O Meu Vizinho Totoro, e é também um dos mais pesados emocionalmente, já que apresenta imagens que podem chocar e aborda assuntos considerados mais graves.

    Se é verdade que muitos dos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial são considerados sobrevalorizados, este não o é, pois mostra uma nova perspetiva da guerra, não se centrando na imagem dos Aliados, mas sim na vida dos civis nos países do Eixo, nomeadamente no Japão. Hollywood bombardeia os cinemas com a temática da Segunda Guerra Mundial exibindo um lado heroico e de perfeição nos países Aliados, no entanto, do Japão surgiu um filme que nos mostra o outro lado, que revela o sofrimento vivido com os constantes bombardeamentos e com a morte de inocentes que em nada estavam envolvidos na guerra.

"(...) no Túmulo dos Pirilampos a guerra é claramente representada de forma realista e crua (...)"


         
Neste filme, não há medo de mostrar o horror da guerra nem a destruição que esta causa. O terror e as consequências do conflito são trazidos de uma maneira que deixa o espetador revoltado e com repulsa. A imagem dos que morrem à fome, dos queimados, dos moribundos não é embelezada nem simplificada, mas sim colocada de frente, com uma exposição que obriga a olhar e a ver o que a guerra faz. Esta é um tema recorrente nos Studio Ghibli. Está presente em filmes como a Princesa Mononoke ou no O Castelo Andante, mas sempre de uma maneira metafórica, sendo que no Túmulo dos Pirilampos a guerra é claramente representada de forma realista e crua, sem qualquer receio de mostrar os factos e a real imagem do terror.

        Apesar de todo este horror, a alegria dos momentos mais simples como apanhar pirilampos, comer um rebuçado ou até comprar um chapéu de chuva partido é transmitida de uma forma natural e facilmente vivenciada, fazendo com que esses momentos abafem e façam esquecer, por momentos, o terror, assim como acontece com os irmãos.

 "Apesar de todo este horror, a alegria dos momentos mais simples como apanhar pirilampos (…) é transmitida de uma forma natural e facilmente vivenciada (…)" 

        
Mesmo sabendo desde o início o desfecho que o filme viria a ter, é impossível afastar o sentimento de tristeza e angústia ao ver o final, fazendo com que o espetador se sinta quebrado e frustrado por nada poder ter feito para o mudar.

       É revoltante ver a dificuldade e a persistência de sobreviver em tempos de guerra, arriscar a vida para salvar quem se ama, mesmo não tomando as decisões mais corretas e, com isso, não conseguir fazer o que melhor se quer.

João Maravilha

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