Kubo e as Duas Cordas (2016)

 



     Kubo é um rapaz que de dia encanta a vila contando, através da sua música e do origami, contos de aventura, e à noite trata da sua mãe doente. Durante uma noite, Kubo invoca um espírito que procura vingança, fazendo com que este seja obrigado a partir numa aventura em busca de uma armadura divina, dos mistérios do seu pai e dos seus próprios poderes.

 

        Kubo e as Duas Cordas é um filme lançado em 2016 com a direção do até então estreante Travis Knight, um dos proprietários da Laika Entertainment. É a 5ª longa metragem deste estúdio de stop motion que já havia produzido títulos como A Noiva Cadáver, Coraline e a Porta Secreta e ParaNorman. Kubo e as Duas Cordas é criado através de uma animação stop motion com recurso a impressões 3D que levam a que uma só personagem tenha mais de 30 milhões de possíveis expressões faciais. O filme possui um estilo oriental, com as diferentes ideias a serem inspiradas nas histórias clássicas asiáticas e nos contos de samurai.

Stop motion é um estilo de animação que ao ser necessária a alteração do modelo continuamente, leva a que o trabalho seja constante e os movimentos por vezes não sejam fluidos e naturais, pois todos os movimentos são alterados com a mudança de frames. No entanto, em Kubo os movimentos não são tao presos e mecanizados como noutros filmes de stop motion, levando a que possam ser feitas cenas de combate totalmente diferentes do que até aí visto neste modelo de animação. Estas cenas são complexas e bastante coreografadas, criando combates únicos e espetaculares, dignos de uma animação à base de movimentos humanos, apesar de o filme não se recusar a usar efeitos CGI para dar retoques nas personagens. A fotografia do filme é fantástica, levando-nos para belos cenários e com cenas ricas em movimentos, dignos de filmes de live action. Como já referido anteriormente, o stop motion obriga a que existam bastantes modelos criados para as diferentes expressões faciais das personagens, de forma a que estas consigam trazer emoções e sentimentos para o ecrã. Em Kubo, estas estão bem presentes, sendo possível analisar o estado anímico de cada personagem através dos seus rostos, não sendo necessário o uso de falas desnecessárias, e muitas vezes em personagens difíceis, uma vez que não são humanas, ou são uma mistura de humanas com animais.

imagem retirada do artigo "How 'Kubo and the Two Strings' Merged Stop-Motion Animation and 3D Printing (Plus a 400-Pound Puppet)"
"Stop motion é um estilo de animação que ao ser necessária a alteração do modelo continuamente, leva a que o trabalho seja constante (…)"

         O terror e o sombrio estão presentes no filme, acompanhados do tema da morte e da vingança, através das personagens das irmãs e do Moon King (voz de Ralph Fiennes). Não há medo de arriscar em personagens que podem chocar e criar alguma insegurança, levando a que haja um verdadeiro vilão que deve ser temido. Mas se temos momentos de escuridão trazidos pela noite, que é proibida e assombrada, também temos momentos de luz e humor, estes mais conduzidos por Beetle (Matthew McConaughey) através de uma personagem mais cómica e ingénua que muitas vezes abusa de piadas fáceis, que pouca piada têm, mas que nos fazem rir de tão tontas que são e conseguem atingir o seu objetivo, mostrar as características da personagem.

 "O terror e o sombrio estão presentes no filme, acompanhados do tema da morte e da vingança, através das personagens das irmãs (…)"

É na banda sonora que encontramos um dos maiores talentos do filme, não só através dos sons e músicas de fundo, mas principalmente através da música que o Kubo toca, não levando a música apenas ao origami, mas até aos nossos sentidos, criando uma sensação de imersividade que torna a simplicidade em beleza. Não é necessário alguém cantar para se perceber o sentimento, e aliando isso com a calma com que as histórias são contadas tornam os momentos perfeitos.

Existem vários temas e momentos do filme que nos remetem a histórias clássicas e já muitas vezes contadas, como é o caso dos vários desafios que o Kubo atravessa para poder conquistar a espada, o capacete e a armadura, criando semelhanças com lendas onde o herói tem de conquistar o seu caminho, enfrentado vários desafios. Ou o amor proibido entre a mãe e o pai de Kubo, onde a divindade se apaixona pelo mortal e escolhe viver entre os humanos. Outro destes exemplos é a diferença entre o mestre e o aprendiz, onde o mestre é sábio e sério, e o aprendiz ingénuo e será o salvador da profecia, como são o caso da Mãe/Macaca e do Kubo. Por fim, nestes exemplos de inspiração clássica existe o perigo da noite, simbolizando o terror e o desconhecido.

"Existem vários temas e momentos do filme que nos remetem a histórias clássicas e já muitas vezes contadas (…)"

         Kubo e as Duas Cordas não é só perfeição, como tudo, e muito devido aos limites impostos pela dificuldade do stop motion. O grande defeito do filme nasce da perfeição do seu enredo e, também, da sua duração. 1h41min cria a sensação de pouco, uma vez que a história é tão boa e o filme nos agarra de tal maneira que apenas queremos ver mais e não nos contentamos com saltos na história ou situações resolvidas de forma simples. Muitos momentos são passados à frente e existe uma rapidez na resolução de certos desafios, como é o caso da armadura e do capacete, que aparecem sem que o espetador veja e perceba a totalidade do momento. No entanto, nestes dois momentos isto é justificado pelo facto de a maior ação se passar mais longe, como é no caso do combate entre a Mãe e a irmã. Também em situações de maior dificuldade surgem as grandes facilidades, fazendo com que esse acontecimento se torne simples demais e não possa haver um maior suspense, como, por exemplo, o Beetle descobrir as suas asas.

        Kubo e as Duas Cordas é um dos maiores e mais sofisticados filmes de stop motion já criados, aproveitando toda a tecnologia disponível para melhorar a experiência do espetador. Laika Entertainment presenteia-nos com cenas de ação incríveis e dignas de live action, assim como paisagens belas e momentos sentimentais arrebatadores.

 João Maravilha

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